Ela acreditava que as escolhas seriam fáceis. Que infantil. Levando em consideração que os três eram homens maravilhosos e cada um tinha o que ela queria em um só. Afinal de contas o certo seria isso. Mas ela optou por enganá-los e escolheu viver sem mexer na obrigação da escolha. Seria mais prático já que ela jamais pensara em futuro, senão o bem próximo. Um dia após o outro.
Apenas um sabia da origem dos outros dois. Mas por acreditar que por ela nada mais sentiria do que um tesão louco, foi se deixando entrar no emaranhado que foi gerando pelo aparecimento do tão inesperado amor.
E ela continuava sua vida, com seus momentos com os homens de sua vida. Havia um deles, o mais velho de todos, que era o seu preferido. Era o que mais a compreendia. O que lhe acalmava. Gostava de dizer as amigas que se um dia o desejo de ser mãe aflorace, ele seria o pai. Era o de gênio melhor, dizia!
E tudo corria bem, quando ela acordou de sobressalto com o celular tocando. Do outro lado uma voz amiga lhe dizia que um um velho vizinho já velho, pai de um amigo de infância havia morrido. Atordoada com a notícia foi ao banheiro e ficou se olhando no espelho como se ali passassem cenas da época em que os idosos da rua, onde crescera, eram jovens e faziam as festas e soltavam foguetes e brigavam com as crianças zuadentas na hora do jonal televisivo.
Embaixo do chuveiro chorou muito. Deixou sua angústia sair junto as lágrimas. Aquela perda a puxara pra um lugar esquecido no vão do tempo. Havia algo guardado e ela havia de decidir se iria ou não ao velório.
Em questões de minutos ela já havia chegado a casa de sua mãe. Sua mãe estava abatida, como todos da rua.
- Já tomou café? Que comer algo?
- Não, mãe. Vim saber se a senhora não quer ir comigo ao velório de seu Arthur.
- Não, querida! Não aguento mais essas perdas. Vou a missa.
- À missa ja não vou. Aquelas músicas me matam....
Ela fez algumas ligações, mas teria que ir ao local sozinha mesmo. Seus amigos já estavam lá. Era manhã de sábado. Todos estavam livres para prestar as últimas homenagens aquele senhor tão amável e educado.
Ao entrar se deparou com a viúva e lhe deu um forte abraço.
- Obrigada, querida, por vir. Eu sabia que você viria!
Sem dizer uma palavra, apenas consentiu com a cabeça, deu um leve piscar de olhos e foi pra um conto da capela, onde estavam amigos conversando.
Meio reservada passou mensagens para o celular dos seus três "amigos" contando o acontecido. Estaria ela ocupada o dia todo. E no dia seguinte estaria em casa. Queria estar só, foi o que disse, aos três.
Ela estava com aquele acocho no coração. Ele não estava lá. Onde estaria? Ela não tinha coragem de perguntar cpor ele a ninguém. Um assunto tão antigo e ela não conseguia perguntar nada.
- Vamos lá fora dar uma pitada?
- Vamos. Já não aguento estar aqui.
Então, aceitando o convite de um dos amigos foi para os fundos da capela, onde havia um local a céu aberto. Estavam fumando quando o silêncio fora quebrado pelo amigo.
- Olha quem vem entrando na pela porta lateral!!!
Ela puxou uma tragada maior que sua necessidade e se engasgou. O amigo riu da situação embaraçosa. E os dois sem saber conter o riso se separaram caminhando pra lados opostos. E quanto mais ela tentava achar um meio de se desviar, mas estava próxima a ele. Tão lindo, pensou ela ao vê-lo. Mesmo com suas mãos geladas e pernas por derrubá-las a qualquer instante, ela resolveu ir de uma vez, falar com o homem que jamais esquecera. O que fez toda diferença em sua vida. O seu primeiro amor. Não o via a vinte e três anos. E isso só os deuses gregos podiam explicar, levando em consideração o tamanho da cidade em que moravam.
- Sinto muito por seu pai, consegui dizer!
E ele como que de sobressalto abraça-lhe bem forte. Um abraço longo e desesperador pra ela. Ao redor, todos observam.
- Meu amor, sua mãe está aguardando a sua presença pra começarmos a celebração da missa.
O abraço ainda durou alguns segundo e aquela cena patética da mulher ciumenta gerou murmúrios. Alguns a favor do abraço. Era apenas uma declaração de carinho de dois amigos de infãncia. Mas as más línguas, acreditaram: aí ou tem ou vai ter coisa! Passado e Presente juntos ao amor de adolescência, coisa boa não dá!
Um abraço que não acabará ali naquele salão triste de despedidas. Aquilo foi um reencontro. Talvez ela nem saiba: UM RECOMEÇO!
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