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terça-feira, 19 de junho de 2012

Carta à Consciência

Querida Consciência,
Hoje estou disposta a mudar o jeito de escrever, a cor do meus cabelos, a música que me inspira, o livro de cabeceira, a personalidade forte, a forma maternal de olhar a todos, a angústia que me acompanha, o desdém do olhar quando encaro quem não gosto, o morder o lábio inferior quando estou pensando e o orgulho que já me tirou da estrada. Enes defeitos, assim como enes qualidades, eu queria que voassem pra além do desconhecido. Lá longe. Onde não se enxerga e nem se vai. Sei que lá está o meu EU. Não me atrevo mais a mexer com ele. Bem que você, poderia me ajudar em relação a ser mais prudente e menos impulsiva.
Mais fácil do que conhecer-me seria embriagar-me com mentiras sinceras, feito dizia um de meus poetas preferidos. Aquele que de tanto viver intensamente abreviou seus dias aqui nessa Terra de gente complicada e instável que nem eu.
Quero defender-me do passado próximo. Deixar as músicas da velha lembrança esquecida em algum lugar. Viver como se fosse possível dar uma pausa, voltar e ao apertar o play, isso fizesse zerar a quilometragem de tanta palavra, tanta espera, tanto desejo, tanta necessidade que foram perdidos por não terem sido zelados. " AMOR DE UM SÓ, NÃO PREENCHE INTERESSE DE AMBOS"
Queria eu sentir-me filha de mim mesma. Proteger-me com a mesma coragem e determinação que ajo diante de um filho meu.
Hoje sou a dor. E se tem alívio, não sei. Só sei que boto fé na única obrigação que o senhor TEMPO tem: o de passar. Millôr dizia isso. "A única coisa que o TEMPO faz é passar". Ou seja, ele não remedia e nem muda ninguém. Isso fica com cada um de nós, mesmo. É cedo pra dizer o que o TEMPO levará, passando e o que deixará. Por enquanto nada dorme. Está tudo vagando em meio ao NADA que ficou. Ou mesmo ao TUDO que faz o nó invisível em meu coração.
Sabemos eu e você, de tantas contradições que estão sendo ditas através dessa carta, não é amiga? Sabemos que a minha memória é feito esses CDs REMEMBER LOVE SONGS LIVE, recheados de músicas que trazem luz mesmo estando noite no dia.
A gente deveria juntas dar uma gargalhada por termos ciência de que sou tão frágil que sei esconder a minha fragilidade. E que parecer tão forte sem o ser, gera inveja. Como é doida a vida com seus habitantes que nada sabem uns dos outros. Enxergam a capa de seus livros e nem se dão ao trabalho de folhear algumas páginas. E agora me deu vontade de ser como me vêem. Uma fortaleza, uma rocha, uma majestosa ilha impenetrável por emoções ou sentimentos, um desenho animado ( escolho aqui a Penélope Charmosa).
Se tenho um espírito de luz a me acompanhar fazendo cócegas em minha alma e assim conseguir seguir sorrindo, mesmo não estando bem é a prova de que ser anormal é a forma que deve ser escolhida pra se viver. Não preciso ficar me justificando. Ninguém se importa mesmo!
Tomei uma atitude agora a pouco. Vou me destravar. Não vou mais escrever ouvindo a mesma música. Como disse acima, mudarei a que me inspira. Serão, agora, várias. E ao som de OH, PRETTY WOMAN vou tecendo a roupa do dia. Assim, não fico exposta ao frio. Como que frio? O frio da espinha. O que corre em minhas costas. O que dá a impressão de que estou sendo observada. O que arrepia e nos faz pensar que tem alma atrás da gente.
Vou ficando cada dia  mais complexa e incompleta.Bem que você, Consciência, poderia me colocar em uma espécie de redoma, um relicário, sei lá. Algo onde eu pudesse ficar com a sensação de segurança.
E agora correm as horas mudando a cada alguns minutos a nova canção. A do momento? MAKING LOVE OUT OH NOTHINGS. E essa lembra de um ano sensacional. Aquele da reprovação. Ano em que de tudo aconteceu. As descobertas, o esporte, as aulas perdidas, o sucesso com os garotos, as paixões semanais, os conflitos diários com a mãe...um show de ano!!!
Tem uma coisa que eu queria te informar. Sabe aquela promessa de passar um ano sem beber? Eu vou quebrar. Cabe a você me deixar sem culpa. Leva, por favor, em consideração o fato de eu ser uma mulher regida pelo coração e que jamais fez mal a ninguém. Está se aproximando o dia cinco de julho. Dia em que nasci pra ser quem sou. Vou beber. Vou dançar. Vou extravasar e exagerar. Vou sair do ar. Vou...eu vou!!
Lembra daquelas músicas que eu gosto de dançar? I WILL SURVIVE, KUNG FU FIGHTING E IT´S RAYNING MAN....Na última festa que fui dancei que me acabei...sem álcool. Sei me divertir de qualquer jeito. Mas no meu dia: eu, Valéria, Sininho e Peter Pan, estaremos juntos. Dessa vez bebendo.
Vou seguir o conselho do meu tio querido Fernando Hidd. Irei reverter a promessa de não beber em cestas básicas e doar sem olhar a quem e sem ninguém saber. Faço o bem e deixo voltar um prazer momentâneo que a bebida traz e depois jurar de pé junto, quando vier a ressaca que jamais beberei de novo...e tudo voltará a ser como antes.
Por favor, Consciência, confio em você! Não vá me incomodar. De repente vi que o amanhã é incerto demais. Nem passagem comprada prova o destino das pessoas. Quero também ter o direito de escolher sair ou não do ar. Beber socialmente pra rir, conversar, ter o tempo passando e nada temer.
Tem amiga minha ansiosa pelo dia cinco de novembro como quem espera pela minha festa de quinze anos. Elas irão amar o meu retorno nas rodas de fofocas de nossas próprias vidas. Nossas histórias de luta e de amor. Tenho sido chata. Quem diabo aguenta papo de bêbado sem beber junto? Agora lembrar de nossas proezas será bem melhor. Repetir nem será abusado!!
Vamos lembrar do show do RPM como sempre. Lembrar que ganhei um beijo no canto da minha boca, do Paulo Ricardo. Claro que isso pra ele nem foi nada, mas pra mim foi. Minhas amigas pediram autógrafos que já nem existem mais e eu fui a única que o beijei. Pena que não tive a audácia de virar o rosto.
Enfim, querida Consciência, muito bom ter a oportunidade de escrever-lhe. Sinto-me até melhor. Queria te agradecer por ter me amparado no dia de ontem: dezoito de junho. Expectativas, juro-te, nunca mais. Vive comigo em paz que eu vivo com os outros em paz também. Uma troca legal, mesmo sendo eu, uma imperfeita mulher contraditória.




5 comentários:

  1. Minha querida amiga, parabéns pela belíssima carta.Monólogo, que eu me atreveria a chamar de diálogo, em que as lembranças, pensamentos e alma são desnudados, expostos com ternura, verdade, mas tbm com muita generosidade e graciosidade.Dialogar com a consciência, certamente que o fazemos muitas vezes, expôr esse diálogo é que é simplesmente mérito só de alguns, mérito esse que a Valéria tem e mostra com muita ternura e naturalidade! Ameiiiiiiii....belíssimoooooooo!!! Beijinhos grandesssssssss linda

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  2. Obrigada,Manu!! Não tenho conseguido escrever...de repente estava chateada comigo mesma e saiu a carta a minha consciência. De coração aberto expus um pouco do que me aflinge. S e todo poeta, como diz uma amiga minha, tem que carregar consigo essa coisa que tira a paz, que invade a alma deixando-a triste, então eu terei que me acostumar com minha mazela. Não sei por onde anda a minha alegria...
    Beijos, querida!!!

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  3. Gostei da proposta do texto. Há um conteúdo intimista intenso onde se lê poesia na construção do mesmo. Considero um texto forte de uma escritora e não é só um desabafo. Bacana! Um talento! Prazer em conhecê-la!

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    1. Obrigada!!Fico feliz por vc ter gostado. Também gostei muito de ler suas crônicas!! Bjão

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