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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Relâmpago

O silêncio ainda hoje cala o grito
Que tentei soltar.
Indeterminadas horas de espanto
Angústia do medo da morte.
E você lá, calado.
Ora balbuciando meu nome
Ora gemendo aflito sem pestanejar.
Um movimento rápido ao chão,
que só fazia lembrar areia movediça.
A cavalaria parecia dar galopes perdidos.

Ninguém nada sabia.
O som tinha ruído feito alto mar.
Tenebroso como o Atlântico da colonização.
Na mente seu rosto desmanchava sem
Que eu pudesse lembrar de suas expressões.
De repente, de um relâmpago,
Vem o vento abraçado a esperança
Avisaram que a vida poderia seguir.

Valéria Hidd.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Apenas Uma Visão

Creio que o melhor mesmo da vida é não se importar mesmo com as coisas. Deixar rolar, como dizem! Queremos mesmo, sempre além do que está ao nosso alcance, então é fazer de conta que a todos os lugares chegaremos. E a cada chegada, uma vitória ímpar. Se não sabemos pra onde ir, aí paciência. Fiquemos à deriva. Quem sabe uma embarcação nos salve.
A complexidade da vida é culpa do que sentimos. Aquele ponto de vista que é peculiar a cada um de nós. Cada ângulo um grau diferente, tipo na matemática. Visão boa pra uns e nem tão boa pra outros.
Caso entendamos essa maneira particular que a vida nos impõe, ficaria bem mais fácil entender porque somos tão diferentes uns dos outros.
Gosto de pensar assim pra entender as pessoas difíceis que estão próximas a mim. Nossa...que coisa!!! Aguentar gente complicada, frustrada, complexada e sei mais o que é terrível. É de lascar o juízo de um!!!
Na verdade acho é tudo complicado. Tem coisa mais complicada do que o amor?? Descomplicado é a paixão. Ela sim. Destemida e rápida para agir. Amor tudo compreende, engole sapo demais. Vive de esperas e se doa muito. Paixão é aqui e agora. Ou dá ou desce!!!
Sou mais a paixão desenfreada do que o amor comportado e que se contenta com pouco. O amor é tratado como que um casamento longo. A paixão como um novo amante! Quem recebe mais atenção? O inserido no casamento ou no amante? Que fique claro que este último nada tem a ver com algo de inapropriado. Amante é igual a ser que ama. Casamento ao ser que casa com a casa. Desse jeitinho aí. Bem complicado mesmo, de se entender!
Agora se o amor está com a paixão e a paixão com o amor, aí sim, dá uma mistura boa. Rola um sexo bem gostoso e menos complicação no dia a dia. 
Os fatos vão se espalhando de forma homogênea. Um dentro do outro. Isso está contido naquilo. E o caminhar fica mais leve, porque as pedras são de isopor e as montanhas saem do lugar quando nos aproximamos.
É apenas a minha visão.






Os dois

Ela e ele
Os dois
Ambos
No mesmo rumo
Se perdem
Se acham
E buscam um ao outro
Lá na estrada de chão
Na casinha de sapê
No Sandero de cor viva
Na prata da lua
No domingo da saudade
No rolar das lágrimas
E lá vão os dois
No vão do caminhar
O que querem?
Apenas um ao outro.....

Valéria Hidd

Afinidade - Arthur da Távola


AFINIDADE
A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.
Arthur da Távola

terça-feira, 11 de setembro de 2012


Alarico

Meu avó era um cara bacana. Era austero e brigava por tudo, mas no fundo a gente sabendo levá-lo, conseguíamos o que queríamos. Ele era parecido com o Mário Lago. Ele era o único homem da casa. Lembro-me quando eu corria no corredor de calcinha e sutiã, atrás de minhas roupas que estavam sei lá onde - nos baldes de roupas limpas ou sujas - ele gritava: sem vergonha, vai se vestir!!!! E eu corria morrendo de rir. Nem ligava. Minha avó ria. Ah tempo bom!!!
A casa dele, onde cresci, é enorme. Aquelas casas que têm corredores compridos e ir na cozinha a noite era testar o medo de alma. Tinha umas cinquenta gaiolas de passarinhos e uns cinco viveiros, dois papagaios, uma grauna, dois pastor alemães e uns ratos (praga que só aparecia a noite). Uma zuada que começava as cinco da manhã. Graças a idade que eu tinha, meu sono nesse tempo era pesado.
Eu tinha medo dele. Mas fui descobrindo que ele mais fazia zuada  do que agia. Nem quando ele me colocava de castigo eu ficava. Ia ao banheiro e me perdia na volta para o quarto. Eu ia era pra rua. Descalça, descabelada....era bom!!!
Eu mexia em seu escritório. Brincava lá. E depois que cresci era lá onde eu ia ligar para amigas e paqueras. O telefone era de discar e ele trancava com cadeado. Um dia prestei atenção ao cara da Telepisa (na época, era esse o nome). Ele discava batendo nas teclas. Pedi para que me ensinasse. E foi a glória. Eu aprendiiiiiii!!!! O telefone ficava em cima da mesa dele. Que era enorme e cheia de preocessos e coisas...muitos papeis, O espaço que tinha embaixo era legal. Eu o puxava  para baixo e ficava ali por horas. A conta vinha alta. Mas eu jamais fui culpada. Mesmo assim ele ficava besta, pois só ele tinha a chave do pequeno cadeado. Um dia, quando ele estava doente e bem velhinho eu lhe contei. E ele riu..Tão lindo aquele sorriso. Ele não tinha mais tanto fôlego. Vivia com falta de ar. Com aquela máscara no rosto. Sofreu. E foi um cara tão bom. Advogava de graça pra quem não podia pagar. Era maçon. Era espírita. Era gente boa!
Quando eu engravidei aos quinze anos, a única pessoa que eu fiquei triste por entristecer, foi ele. Nossa...aquela sensação de erro e de pecado me atormentou por quatro eternos meses. Tempo em que minha barriga não aparecia, portanto eu não encontrava coragem pra contar. Mas o resto eu ia vivendo.
Ele foi de uma delicadeza espantosa quando me chamou no quarto e disse: Tão inteligente e viva, como foi cair nessa? Fiquei sem saber "se nessa" era ter transado ou engravidaddo!! Ou os dois!!!
Eu não tinha coragem de olhá-lo. Fiquei vários meses meio distante. Mas só me sentia bem lá na casa dele. Casa que ainda hoje me refiro  LÁ EM CASA!
Sei que o magoei, mas a mãe que sou de onde ele estiver, sabe que tudo é como tem que ser. Não sei se ele estava certo em dizer que desperdicei o privilégio de ser inteligente. A verdade é que eu até hoje não sei pra que é que serve é ser inteligente. Não consigo me deixar ser avaliada, porque todo mundo pesca. Todo mundo usa a esperteza para melhor se dá. Então, na verdade, não perdi muita coisa , não. Se fosse isso importante, cientista era rico!
Ele era um cara honesto e justo. Justo assim, às vezes dava razão ao que estava errado. Eu pelo menos não mexia com ninguém, mas quando mexiam comigo eu tacava logo a mão. Era assim...
Meu avô me ensinou a ser assim: ter as minhas coisas e pessoas e viver com elas e pra elas. Nada além.




segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Eu, Valéria

Engraçado achar que o que é mais fácil de resistir está fora de nós mesmos. Sempre tive consciência de que eu mesma, sou a razão de minhas angústias. Principalmente quando sei que não devo fazer algo e assim mesmo eu faço. É um prélio constante esse!!!
Ir de contra ao que acreditamos é em parte teimosia, mas pode ser medo. Como posso saber se aquilo não é pra ser feito? Mas há uma coisa em que posso me basear: conveniência do ato a praticar. Isso!!!! É isso que me faz saber que estou indo contra ao que a minha mente diz ser o certo. Levando em consideração de que são vários os certos e assim são várias, as verdades, eis que o dilema me afronta. Faz, Valéria! Recua, Valéria.
Pessoas como eu, que não pensam muito quando estão em situação extremas acertam mais do que erram. Mas tem gente que pensa o contrário, e passa anos pensando se podem ou devem...e assim lá se foi.
Sei que tudo o que fiz, aos poucos foi me transformando na pessoa que sou. Não sou mais ingênua, mas ainda caiu em situações ingênuas. Isso por querer que a tal coisa seja verdade. Talvez atraindo a mentira sincera. Coisas dessa natureza. Acho que sem ilusão não se vive. Elas são o motor da vida. Só sabemos que tivemos uma, quando a recebemos de braços abertos. Assim, sou eu. Recebo e deixo entrar. Seguindo sempre. Parando quando necessário. E também recuando uns passos, nada contra um olhar pra trás vez por outra. Isso é ser sábio. Li isso em algum lugar.O fato é que nem sei- sempre-o que fazer. E isso me dá um belo texto. Então até nas minhas fraquezas têm algo a acrescentar as minhas questões.
Não sou complicada. Pelo contrário. A maturidade trouxe-me um pouco de prudência, mesmo sendo impulsiva. Tenho que achar artifícios para viver nessa vida maluca, porque não ter medos causa-me desconforto. Devo ter medo de não ter medo, porque o medo freia e alerta. É o sinal laranja do semáforo.
Tenho o que minha mãe não teve. Parece ser um jeito de não parecer com ela. Ja que fisicamente somos bem parecidas. Dizem os mais velhos: ela sendo mais bonita. Belezas à parte, não quero mesmo ter medo de viver os meus desafios como ela teve. Digo ela teve, não por ela estar morta. Só morreu mesmo para os desafios.
Então que eu saiba continuar a me vencer a cada dia. Que eu saiba enganar-me. Que eu saiba erguer-me. Que eu saiba amparar-me. Ninguém é tão forte e importante pra mim, do que eu mesma. Só permaneço em pé se eu mesma fizer por onde. Então, sou a parte nesse Universo mais importante pra mim mesma.



Presto atenção ao cair do Sol
Nada enxergo além de sua luz ora vermelha, ora laranja
Bem-vinda, noite
Transforma o dia não tão bom, em escura clara esperança!!
Valéria Hidd.



 http://www.youtube.com/watch?v=YuJbij0Vx20&feature=share
http://www.confrariadeautores.com/parceria/
Ela estava tão radiante e presa mais uma vez naquela parte da vida que estava adormecida. Um encanto debaixo de cada pedacinho daquela noite. O vai e vem das ondas, o vento soprando em sua janela e o perfume inspirador e excitante a deixavam louca pela chegada dele.
A viagem inesperada foi a chave para terminar de abrir o que o passado havia deixado fechado a uma volta. Apenas uma. Naqueles dias, ela jurara que faria cada momento valer a pena. Nada de pensar no que virá e nas escolhas que aquele reencontro ia lhe obrigar a fazer. Ali estavam ela e ele. Apenas uma coisa em comum: o passado mal resolvido dos dois. O adeus que nunca deram, agora estava explicado. Nada havia acabado. Ali tinha fogo, paixão e algo mais. Tinha a vontade de se dar. O cheiro do velho novo. A hora de viverem o que não foi permitido por não saberem lidar com a pouca idade que tinham.
Após receber a ligação dele ela saiu ao seu encontro no bar do hotel. Lá o encontrou. E que homem lindo. Um sorriso de fazer qualquer coração pulsar descompassado. Tomaram uma dose de wisk e saíram de mãos dadas. Resolveram caminhar pela orla. Entre carinhos e beijos iam seguindo conversando e sorrindo. Estavam felizes. Aquele momento único, pensava ela. Mas por não saber que viveriam sim, vários deles. Pois cada dia daquele feriado ela amou mais que o outro.
E se não fosse a sua coragem de deixar pra trás o que nada dizia há tempos, desligando-se do resto do mundo, ela jamais saberia que ali estava aquele homem que sempre esteve por perto, mas que o medo a cegava.
Pararam num barzinho com música ao vivo, sentaram-se numa mesa com meia luz e deram-se um beijo longo e apaixonado. As mãos dele tocaram levemente o seio direito dela. E aquilo fez com que ela retirasse a mão atrevida. Mas riu da situação.
Como haviam combinado que naquela viagem não falariam do passado, conversaram de coisas corriqueiras do presente. Uma noite iluminada pela energia da esperança. Os dois sempre se amaram. Veio desencontros. Falta de comunicação. Essas coisas que a vida vai trazendo durante o tempo em que estamos seguindo.
Eles tinham um ao outro dentro de si. Nada foi capaz de apagar. Era como tatuagem, ou como escrever numa rocha. Foram passando os anos e lá estavam.
Um casal lindo, na idade madura que juntos carregavam a criança dos tempos que eram vizinhos. E quantas lembranças tinham daquele primeiro beijo, primeiras carícias....até que transaram no sofá da casa dele.
Estavam num reencontro permitido e guiado pela vida. Tudo conspirava a favor dos dois.
Aquela noite fora tão mágica, dormiram abraçados. Estarem juntos já era de um prazer enorme. Afinal aquela era a primeira noite de um final de semana prolongado...


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Provisório....

Nem sempre quando se quer agradar, agrada-se. Ela acordou toda bem intensionada. Depois na noite de amor, de novas juras, de novas promessas, de um reencontro as escondidas e não às escuras, ela quis surpreendê-lo. Levantou e foi até a cozinha arrumar um belo café da manhã. Queimaduras a parte e chaleira esquecida no fogão com chamas acesas, levou em uma cesta que existia na casa há tempos (mas esse detalhe nem tem tanta importância. Quando a poeira se foi, tudo ficou encerado).
Com um selinho na testa, porque beijo na boca pela manhã está fora de cogitação, ela o despertou. Ainda nu, olhou-a admirado. Boca entreaberta, cagueijou:
- Nononossa...obrigado. Vem cá!!!
Tomaram café juntos e foram para o banho. Claro, que fizeram o que vocês estão pensando. Uma bela rapidinha. Ainda não era feriado e ambos teriam que ir as suas obrigações e deveres da velha luta do dia a dia. Apenas um detalhe: Estavam refeitos e leves. A noite fora regada de muito amor num mundo só deles. Aqueles anos de ausência e olhares distantes, haviam desaparecido e o vazio fora preenchido com a certeza de que ali estavam duas pessoas livres para amar, mas isso pensara ele. Não seria tão fácil assim pra ela. E isso nem a própria sabia.
Após se despedirem e cada um tomar o seu rumo, ela foi até o porta-luva de seu carro e pegou o celular. Não. Ele não foi esquecido lá. Foi guardado. É o tipo de coisa que se tem/deve  fazer quando não se quer magoar o outro. Longe de ser safadeza. Apenas prudência. Afinal ela não tinha a quem dar satisfações.
E ele? Será que estava mesmo disposto a enfrentar as feras e se divorciar? Nem sempre só de amor uma relação necessita. Há atitudes, escolhas a fazer e dentro desse circulo, estão pessoas queridas. Na verdade de for prestar mesmo atenção, numa separação, só mesmo a parte que quer se livrar é que está bem. Um bem entre aspas, eu sei!
No caminho para o trabalho ela recebe uma ligação. Do outro lado uma voz que ela escuta há três anos.
- Estou morrendo de saudade. Chego, as vinte horas e estou sedento por você. Jantamos juntos hoje?
- Hoje?
- Sim, o que foi? Estou com saudades. Você não me atendeu ontem a noite. Onde estavas?
Era o início de um emaranhado de mentiras. Por mais que ela se considerasse livre. Sem compromissos determindo e assumido com os três "amigos", cada um dele se sentia seu dono. Relacinamentos como quaisquer um. A danada da posse dando uma gota de pressão.
- Claro, estou louca pra te ver!
O suor escorria por seu rosto, mesmo estanado com o ar do carro ligado. Não que estivesse com remorso, mas estava entrando num terreno bem perigoso. Estava de volta ao único homem que realmente amou. Mas e como entender o falta de coragem para se livrar dos três? A resposta nem mesmo ela sabe si dar!!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A difícil escolha (provisório)

Ela acreditava que as escolhas seriam fáceis. Que infantil. Levando em consideração que os três eram homens maravilhosos e cada um tinha o que ela queria em um só. Afinal de contas o certo seria isso. Mas ela optou por enganá-los e escolheu viver sem mexer na obrigação da escolha. Seria mais prático já que ela jamais pensara em futuro, senão o bem próximo. Um dia após o outro.
Apenas um sabia da origem dos outros dois. Mas por acreditar que por ela nada mais sentiria do que um tesão louco, foi se deixando entrar no emaranhado que foi gerando pelo aparecimento do tão inesperado amor.
E ela continuava sua vida, com seus momentos com os homens de sua vida. Havia um deles, o mais velho de todos, que era o seu preferido. Era o que mais a compreendia. O que lhe acalmava. Gostava de dizer as amigas que se um dia o desejo de ser mãe aflorace, ele seria o pai. Era o de gênio melhor, dizia!
E tudo corria bem, quando ela acordou de sobressalto com o celular tocando. Do outro lado uma voz amiga lhe dizia que um um velho vizinho já velho, pai de um amigo de infância havia morrido. Atordoada com a notícia foi ao banheiro e ficou se olhando no espelho como se ali passassem cenas da época em que os idosos da rua, onde crescera, eram jovens e faziam as festas e soltavam foguetes e brigavam com as crianças zuadentas na hora do jonal televisivo.
Embaixo do chuveiro chorou muito. Deixou sua angústia sair junto as lágrimas. Aquela perda a puxara pra um lugar esquecido no vão do tempo. Havia algo guardado e ela havia de decidir se iria ou não ao velório.
Em questões de minutos ela já havia chegado a casa de sua mãe. Sua mãe estava abatida, como todos da rua.
- Já tomou café? Que comer algo?
- Não, mãe. Vim saber se a senhora não quer ir comigo ao velório de seu Arthur.
- Não, querida! Não aguento mais essas perdas. Vou a missa.
- À missa ja não vou. Aquelas músicas me matam....
Ela fez algumas ligações, mas teria que ir ao local sozinha mesmo. Seus amigos já estavam lá. Era manhã de sábado. Todos estavam livres para prestar as últimas homenagens aquele senhor tão amável e educado.
Ao entrar se deparou com a viúva e lhe deu um forte abraço.
- Obrigada, querida, por vir. Eu sabia que você viria!
Sem dizer uma palavra, apenas consentiu com a cabeça, deu um leve piscar de olhos e foi pra um conto da capela, onde estavam amigos conversando.
Meio reservada passou mensagens para o celular dos seus três "amigos" contando o acontecido. Estaria ela ocupada o dia todo. E no dia seguinte estaria em casa. Queria estar só, foi o que disse, aos três.
Ela estava com aquele acocho no coração. Ele não estava lá. Onde estaria? Ela não tinha coragem de perguntar cpor ele a ninguém. Um assunto tão antigo e ela não conseguia perguntar nada.
- Vamos lá fora dar uma pitada?
- Vamos. Já não aguento estar aqui.
Então, aceitando o convite de um dos amigos foi para os fundos da capela, onde havia um local a céu aberto. Estavam fumando quando o silêncio fora quebrado pelo amigo.
- Olha quem vem entrando na pela porta lateral!!!
Ela puxou uma tragada maior que sua necessidade e se engasgou. O amigo riu da situação embaraçosa. E os dois sem saber conter o riso se separaram caminhando pra lados opostos. E quanto mais ela tentava achar um meio de se desviar, mas estava próxima a ele. Tão lindo, pensou ela ao vê-lo. Mesmo com suas mãos geladas e pernas por derrubá-las a qualquer instante, ela resolveu ir de uma vez, falar com o homem que jamais esquecera. O que fez toda diferença em sua vida. O seu primeiro amor. Não o via a vinte e três anos. E isso só os deuses gregos podiam explicar, levando em consideração o tamanho da cidade em que moravam.
- Sinto muito por seu pai, consegui dizer!
E ele como que de sobressalto abraça-lhe bem forte. Um abraço longo e desesperador pra ela. Ao redor, todos observam.
- Meu amor, sua mãe está aguardando a sua presença pra começarmos a celebração da missa.
O abraço ainda durou alguns segundo e aquela cena patética da mulher ciumenta gerou murmúrios. Alguns a favor do abraço. Era apenas uma declaração de carinho de dois amigos de infãncia. Mas as más línguas, acreditaram: aí ou tem ou vai ter coisa! Passado e Presente juntos ao amor de adolescência, coisa boa não dá!
Um abraço que não acabará ali naquele salão triste de despedidas. Aquilo foi um reencontro. Talvez ela nem saiba: UM RECOMEÇO!