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sábado, 23 de junho de 2012

Floresta

Estar aqui é uma fuga.
Sem identidade. Só três além de mim.
Haveria de ter um acima de mim...acima do céu.
Ter alma de poeta. Sair do ar....
Ficar grande sem crescer. Estar aqui e lá. Nunca ali.
Ir e voltar. Chegar em todos os lugares possíveis.
Saber e não ter razão. Deixar passar e não aceitar aceitando.
Estar passando sem sentir a chama...a que queima.
E não a que chama.
Ser tempestade sem vento, Rio sem água e
mundo sem amor!!!
Valéria Hidd

terça-feira, 19 de junho de 2012

Carta à Consciência

Querida Consciência,
Hoje estou disposta a mudar o jeito de escrever, a cor do meus cabelos, a música que me inspira, o livro de cabeceira, a personalidade forte, a forma maternal de olhar a todos, a angústia que me acompanha, o desdém do olhar quando encaro quem não gosto, o morder o lábio inferior quando estou pensando e o orgulho que já me tirou da estrada. Enes defeitos, assim como enes qualidades, eu queria que voassem pra além do desconhecido. Lá longe. Onde não se enxerga e nem se vai. Sei que lá está o meu EU. Não me atrevo mais a mexer com ele. Bem que você, poderia me ajudar em relação a ser mais prudente e menos impulsiva.
Mais fácil do que conhecer-me seria embriagar-me com mentiras sinceras, feito dizia um de meus poetas preferidos. Aquele que de tanto viver intensamente abreviou seus dias aqui nessa Terra de gente complicada e instável que nem eu.
Quero defender-me do passado próximo. Deixar as músicas da velha lembrança esquecida em algum lugar. Viver como se fosse possível dar uma pausa, voltar e ao apertar o play, isso fizesse zerar a quilometragem de tanta palavra, tanta espera, tanto desejo, tanta necessidade que foram perdidos por não terem sido zelados. " AMOR DE UM SÓ, NÃO PREENCHE INTERESSE DE AMBOS"
Queria eu sentir-me filha de mim mesma. Proteger-me com a mesma coragem e determinação que ajo diante de um filho meu.
Hoje sou a dor. E se tem alívio, não sei. Só sei que boto fé na única obrigação que o senhor TEMPO tem: o de passar. Millôr dizia isso. "A única coisa que o TEMPO faz é passar". Ou seja, ele não remedia e nem muda ninguém. Isso fica com cada um de nós, mesmo. É cedo pra dizer o que o TEMPO levará, passando e o que deixará. Por enquanto nada dorme. Está tudo vagando em meio ao NADA que ficou. Ou mesmo ao TUDO que faz o nó invisível em meu coração.
Sabemos eu e você, de tantas contradições que estão sendo ditas através dessa carta, não é amiga? Sabemos que a minha memória é feito esses CDs REMEMBER LOVE SONGS LIVE, recheados de músicas que trazem luz mesmo estando noite no dia.
A gente deveria juntas dar uma gargalhada por termos ciência de que sou tão frágil que sei esconder a minha fragilidade. E que parecer tão forte sem o ser, gera inveja. Como é doida a vida com seus habitantes que nada sabem uns dos outros. Enxergam a capa de seus livros e nem se dão ao trabalho de folhear algumas páginas. E agora me deu vontade de ser como me vêem. Uma fortaleza, uma rocha, uma majestosa ilha impenetrável por emoções ou sentimentos, um desenho animado ( escolho aqui a Penélope Charmosa).
Se tenho um espírito de luz a me acompanhar fazendo cócegas em minha alma e assim conseguir seguir sorrindo, mesmo não estando bem é a prova de que ser anormal é a forma que deve ser escolhida pra se viver. Não preciso ficar me justificando. Ninguém se importa mesmo!
Tomei uma atitude agora a pouco. Vou me destravar. Não vou mais escrever ouvindo a mesma música. Como disse acima, mudarei a que me inspira. Serão, agora, várias. E ao som de OH, PRETTY WOMAN vou tecendo a roupa do dia. Assim, não fico exposta ao frio. Como que frio? O frio da espinha. O que corre em minhas costas. O que dá a impressão de que estou sendo observada. O que arrepia e nos faz pensar que tem alma atrás da gente.
Vou ficando cada dia  mais complexa e incompleta.Bem que você, Consciência, poderia me colocar em uma espécie de redoma, um relicário, sei lá. Algo onde eu pudesse ficar com a sensação de segurança.
E agora correm as horas mudando a cada alguns minutos a nova canção. A do momento? MAKING LOVE OUT OH NOTHINGS. E essa lembra de um ano sensacional. Aquele da reprovação. Ano em que de tudo aconteceu. As descobertas, o esporte, as aulas perdidas, o sucesso com os garotos, as paixões semanais, os conflitos diários com a mãe...um show de ano!!!
Tem uma coisa que eu queria te informar. Sabe aquela promessa de passar um ano sem beber? Eu vou quebrar. Cabe a você me deixar sem culpa. Leva, por favor, em consideração o fato de eu ser uma mulher regida pelo coração e que jamais fez mal a ninguém. Está se aproximando o dia cinco de julho. Dia em que nasci pra ser quem sou. Vou beber. Vou dançar. Vou extravasar e exagerar. Vou sair do ar. Vou...eu vou!!
Lembra daquelas músicas que eu gosto de dançar? I WILL SURVIVE, KUNG FU FIGHTING E IT´S RAYNING MAN....Na última festa que fui dancei que me acabei...sem álcool. Sei me divertir de qualquer jeito. Mas no meu dia: eu, Valéria, Sininho e Peter Pan, estaremos juntos. Dessa vez bebendo.
Vou seguir o conselho do meu tio querido Fernando Hidd. Irei reverter a promessa de não beber em cestas básicas e doar sem olhar a quem e sem ninguém saber. Faço o bem e deixo voltar um prazer momentâneo que a bebida traz e depois jurar de pé junto, quando vier a ressaca que jamais beberei de novo...e tudo voltará a ser como antes.
Por favor, Consciência, confio em você! Não vá me incomodar. De repente vi que o amanhã é incerto demais. Nem passagem comprada prova o destino das pessoas. Quero também ter o direito de escolher sair ou não do ar. Beber socialmente pra rir, conversar, ter o tempo passando e nada temer.
Tem amiga minha ansiosa pelo dia cinco de novembro como quem espera pela minha festa de quinze anos. Elas irão amar o meu retorno nas rodas de fofocas de nossas próprias vidas. Nossas histórias de luta e de amor. Tenho sido chata. Quem diabo aguenta papo de bêbado sem beber junto? Agora lembrar de nossas proezas será bem melhor. Repetir nem será abusado!!
Vamos lembrar do show do RPM como sempre. Lembrar que ganhei um beijo no canto da minha boca, do Paulo Ricardo. Claro que isso pra ele nem foi nada, mas pra mim foi. Minhas amigas pediram autógrafos que já nem existem mais e eu fui a única que o beijei. Pena que não tive a audácia de virar o rosto.
Enfim, querida Consciência, muito bom ter a oportunidade de escrever-lhe. Sinto-me até melhor. Queria te agradecer por ter me amparado no dia de ontem: dezoito de junho. Expectativas, juro-te, nunca mais. Vive comigo em paz que eu vivo com os outros em paz também. Uma troca legal, mesmo sendo eu, uma imperfeita mulher contraditória.




sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ela acordou naquela manhã com as batidas violentas das roupas na pedra da pia. Nunca entendera aquela atitude das lavadeiras. Seria uma pergunta infantil? Pensou. Deu um sorriso pra si mesma e continuou imóvel, calada e voando por entre suas obrigações e pensamentos de fuga. Que noite, ruim, aquela anterior! Todos os músculos gritavam a mesma coisa: Levante-se e reaja, o mundo não vai parar por conta de sua desilusão. Ou melhor, desilusões.
Ter consciência disso não era exatamente aceito por ela naquele acordar cedo do dia. Por que quem há fez sentir-se um caco de vidro no chão não estaria nem aí? Era tão fácil deletar da tela a coisa escrita errada. Qual o motivo da mente não obedecer a sua voltade de excluir o culpado da desordem cerebral no instante do abrir os olhos naquela nova manhã, naquele novo dia?
Sem dúvidas ela sabia que nem sempre o pensamento se alia a vontade do reagir. Era como se ela fossem duas mulheres se digladiando. Duas amigas: a razão e a emoção. Claro, sempre elas trazendo as contradições para a normalidade do dia a dia daquela mulher que de forte não tinha era nada. A visão de sua força, sabia ela, era uma espécie de membrana. Uma capa. Quem a olhava, enxergava aquela beleza sempre com as respostas na ponta da língua. E só ela entendia que as respostas mais rápidas, eram de fato, as mais fáceis de dar.
Em sua agenda íntima haviam dezenas de coisas por fazer. Estavam em linhas diferentes. Precisava ela rapidamente, parar de sentir pena de si mesma e ir organizando as suas tarefas. Muitas, obrigações. A maioria feitas a muito custo, mas sem aplauso nenhum. Sem reconhecimento. Sem vida. Apenas renúncias.Falta de ânimo na vida. Isso sim...
De repente toca o despertador. Era para ser o momento do acordar. Nem ela mesmo, sabe dizer o quanto tempo ja estava acordada. Não haviam mais pancadas na pia. O Astro Rei já estava a todo vapor fazendo evaporar as nuvens do caminhar daquelas roupas. Uma delas sabia por onde ela andara,com quem falara, o que dissera,o que deixara de dizer, o caminho que percorreu...mas opa!!!!! Que legal.... nem mesmo aquela roupa - tão linda blusa - sabe o que sentiu o seu coração pulsar de vários tons diferente aquele dia, nem mesmo ela, sabe o que ela pensara ou sentira.
Ela começou então a colocar em prática o que havia visto num desses livros de auto ajuda: " VOCÊ É AQUILO QUE PENSA".
Veio a sua mente aquele estado de espírito que está tão ao alcance dos olhos nas pequeninas entrelinhas do texto da vida. Da história de vida de cada um. E a mente dela é tão rápida e doida, que nesse extato momento lembrou do trecho da música...."felicidade é tudo o que se quer. A esse maldito...de repente a gente rarga a roupa numa febre muito louca....faz o corpo levitar...." O que tem uma coisa com outra ou o porquê dessa música ter vindo a mente dela naquele momento, só mesmo a mente pode explicar. Mas o espantoso de tudo é que aquela desilusão foi se perdendo diante do mais novo foco trazido pela mente. O corpo levitar. Nossa....nossa...que delícia!!Diz a outra música.
E achar que tudo isso são coisas desconectas é deixar esse texto de lado e ficar sem entender o que move mesmo o pensamento de uma mulher. Saber agradar a mulherada é muito fácil. Claro que ela leva em consideração que há de se ter um par. "Dois fãs, um par". Como Nando Reis nos faz entender o que os olhos são.
O mais interessante é que ao sair da cama e ir para o banho o impasse que a fez pensar e viajar por paisagens com suas folhas caindo perante a ventania do despertar, já havia dado lugar às folhas que estavam nascendo. A coisa perdeu a proporção doida e deu lugar ao continuar da jornada. Não estava mais pensando em deletar nada. Precisa ter na mente claramente aquela ponta de letras, silábas, palavras, frases, orações...para assim classificar o que servirá para completar as lacunas por onde estão mal entendidas, ainda, a passagem daquele outono que seria mais um a recordar.
Aquele velho gosto de café e cigarro na boca, ainda permanecerá em sua vida. E se a vida é assim tão contraditória - pensou ela por ser não fumante - o melhor a fazer é aceitar o não ser comum e nem normal. Jamais isso quer dizer: estar doente! Pelo contrário, doente é quem vive na mesmice dos eternos pensamentos imutáveis.
E ela já refeita pelo banho, olha-se nua ao espelho e se diz: Linda, hoje é o seu dia!!!