Hoje acordei como se tivesse dado um passeio durante meus sonhos,acho que pela praia. Eu gostava de caminhar na areia descalça quando morava em São Luís. Pena que os sonhos somem quando desperto. Deixam apenas aquela impressão lá dentro. Num lugar onde só eu chego. Onde não há pouco e nem freios. É lugar de intensidade. Aparecem saudades estranhas, por eu não saber do quê! Vem aquela vontade de chorar, mas as lágrimas não caem, apenas marejam meus olhos. É uma luta conviver comigo mesma. Eu e eu andamos muito em prélio. Tendo consciência de que muita coisa não tem razão de ser e sendo assim, são eternamente sem explicações. De lá desse lugar vem a escada que impulsiona a coragem, as idas e vindas, o recuo, o ceder...coisas que me regem de forma bem visível, tornando a mim uma mulher perfeitamente imperfeita.
Lembro de umas figuras interessantes. Umas apenas via na areia, pertinho das águas. Havia os que como eu gostavam de caminhar sentindo o vai e vem das ondas que quebravam lindamente. E tinha os que estavam onde eu deixava o carro, onde eu bebia a água de coco, onde eu sentava, onde eu conversava. Certa vez passei pelo ator Lima Duarte, mas não o reconheci. Um senhor normal, com chapéu na cabeça, cambota e mais baixo do que eu. Uma conhecida, dona de uma picanharia fez um sinal p mim e encostei para saber o que era. " Você não viu o Lima Duarte?" Poxa...até teria dito pra ele: "Nossa, pra mim o maior de todos os personagens nacionais é o Sinhorzinho Malta!!" Perdi a oportunidade, mas tudo bem. Ela, a conhecida, exclamou ao ver minha decepção: " Mas se fosse Reinaldo Gianecchini você teria visto!!" Capaz!!
As pessoas me conheciam pelo nome. Acho que por eu ter o hábito de perguntar o nome delas. Jean dizia: Valéria, vai querer o coco agora? Ele é o garçom que me atendia. Diz ele que meu bom dia era bonito porque era sem obrigação, já que eu sorria. Mas também tinham as pessoas que eu antipatizava e que certamente me achavam antipáticas também. Isso é bom. Eu não nasci para agradar todo mundo. Ser educada com quem não merece já é meio caminho andado para o céu. Chego lá!!
O cara lavava meu carro sem perguntar. Não gosto de gente esperta. Mas ele tinha a cara de cachorrinho abandonado. Feio de doer!! Eu não sorria pra ele. Nunca ria. Um dia cheguei e coloquei o carro no lugar de costume e lá estava o tal. É o Neto! Perguntei o nome dele e disse: pega a chave e limpa por dentro também. Pode ligar o som!! Após isso, amigos ficamos!!
De todos os que lembro o mais mais era Roberta. Nossa...é o que digo ser uma figura folclórica. De pele bem preta e pêlos dos braços e coxas dourados. Vendia sanduíche natural. Uma delícia. Claro que eu era freguesa. Depois de nos tornarmos mais intimas , digamos assim, eu comprava um e ganhava outro. Sempre de peru. A figura sempre chegava abafando. Conhecida por todos. Os dentes bem brancos e bonitos. Simpática, a bicha! Como eu estava lá todos os dias pela manhã até as nove, pois tinha o privilégio de ter o mar como meu quintal, Roberta sentava e ficávamos conversando sobre os mais variados assuntos. Gostava do assunto silicone. Tinha na bunda e nos peitos, que ficaram sendo seios. Eu ria muito. Não tinha dia triste para Roberta. Era um astral de dar inveja. O engraçado foi quando ela comprou um Gol e estava treinando para tirar a carteira de motorista. A danada na baliza estava judiando demais. Ela repetia e se lamentava, sorrindo, pela taxa. " Vou falir, deusa! Ela me chamava de deusa. Havia apenas uma coisa que a tirava do sério. Nasciam pelos em seu rosto, mas ela ouviu falar em laser. Além da carteira de motorista, tinha mais esse sonho: deixar de usar o aparelho que tanto lhe irritava a pele. Tadinha! Também pudera, nascera no corpo errado. Roberta me mostrou a identidade dela. Uma prova de confiança e amizade, viu? Disse.
Tá lá escrito: Paulo Roberto de sei lá do quê.....