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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Nós: Eu e Galeno

Horas: dezessete e quarenta. Nada da chave do carro. Respira, Valéria com calma.....percorre a casa...achou....na pia do banheiro. Ficou lá quando ela foi dar uma verificada na beleza. Não há estacionamento próximo ao colégio às dezoite e quinze. Sem problemas. Sem problema coisa nenhuma, Galeno vai começar a reclamar logo ali...na porta....vai resmungando até o carro!!! Bolsas, lancheira,celular, chave do carro, massinha, uma pasta e duas mãos dando de conta de segurar o resmungão. Que como burro dá um passo e pára. Puxa, Valéria, esse menino!!! Puxado e enfiado no carro.

- Eu quero um Mclanche Feliz.....ecoa nos ouvidos da motorista mãe.

No banco do carona tudo rebolado, inclusive o celular.

Humor de Galeno junto ao de Valéria, gera um sonoro, tá boooooooommmmmm.

- Vamos lá, mas primeiro tenho que passar p colocar gasolina. Olha aqui a luz amarela.

- É lalanja!!!!

- Que seja até azul, mas pelo amor de teus bonecos, pára de enjoar, eu tô pra correr loucaaaaaaa!!!!!

- Se tu correr, eu corro também, mamãe.

Sem comentários. Caminho a seguir(sem crase pq antes de verbo não se coloca crase, lembro disso aí!!!).

Não existe desespero maior do que você estar com um filho enjoando, sem gasolina, num congestionamento.....celular toca! Cadê? Juro por tudo o que é mais sagrado que nunca mais rebolo essa coisa no banco. Alcançado....escapuliu para debaixo do banco. Desespero total. E o coisa lá tocando. Tem outro mais próximo....por que a pessoa não liga para o tal de TIM?

Com a confusão do celular que nunca parava. E que veio ao pensamento do que estava ligando, algum acidente, assalto, algo ruim.....nunca que o toque estava vindo lá de baixo. Trânsito lento....abro a porta...enfio-me quase deitada...achei o celular que nessas horas nem deveria existir.

Pronto tudo bem. Vamos ao que traz uma culpa tremenda em Valéria. Dar um sanduíche, um veneno, um engordador p Galeno. Que também espera que seja "difelente" o brinquedo da vez....porque na discovery passou que é num sei quem Bacugan. E tomara que São Luís seja bem próximo a São Paulo. E que este tal Bacugan já tenha chegado.

- Quelo água, quelo água, quelo água.....ahhhhhhhh tô com sedeeeeee!!!!!!

No posto. No posto tem água. Meu Deus, a gasolinaaaaaa!!!!!! Um desespero, vontade de chorar.....

Imediatamente desligá-se o ar. Um conforto que a essa hora passara a ser dispensável mesmo nos deixando sem segurança. Nada da fila andar. Congestionamento. Valéria diz em voz alta: Queria ser uma moto!!!!

- Mas aí você não ia ser minha mãe!!!

Nem sinal de um posto. Sede, gasolina, calor, medo da janela aberta e o pior:CONGESTIONAMENTO!

- ahhhhh.....eu quelo águaaaaaa!!!

- Menino, pelo amor de Deus....cala a boca. No posto tem água. Estamos chegando.

- Estamos, não!!! O posto é do outro ladooooo!!! Eu queloooo águaaa.

Com a constatação de Galeno....do posto ser do outro lado, a imaginação fluiu como se voasse, flutuando, quase que visto a olho nu..... no prego, deixando o carro no meio da avenida, o povo buzinando, ela descalça(não ia sair de salto), arrastando Galeno pela mão ou pelos cabelos....a esta hora não dá mais para raciocinar direito.

Ponto morto e descendo??? Utopia.....estavam em uma pequena subida. Uma desesperadora subida que se tornava aos olhos dela, uma íngreme escada.

- Moçooooo, por favor deixa eu passar....vou ficar no prego de gasolina e meu filho quer parar para fazer xixi.

- Nãooooo, eu quelo é águaaaa!!!

Aos sussuros com os dentes cerrados: "cala a boca!". A voz assustou....menino caladim caladim....

Pronto, um filho de Deus, um quase anjo....deixou o carro passar. E vivaaaaaa....... um posto!

Tudo as mil maravilhas. Gasolina, água e celular desligado por vontade dela. Ranca até a bateria....

- quelo mais Mclanche Feliz, não. Quelo um pizza de mussalela!!!

- Menino tu nasceu pra me enlouquecer, foi? Depois de ter vindo até aqui, sem gasolina, com vidro aberto, parabrisa limpo por duas vezes, moedas simpáticas p cheiradores de cola....e tu me diz que não quer mais essa porra????

- Ahhhhhhhh tu é uma mãe ruim.....vou te colocar na prateleira do supermercado....vou te vender....feia...

Valéria fecha os olhos....respira....aceita a burrice.....lembro de ligar o som...coloca uma música lá do passado....uma música que não liga ela a ninguém....só a ela mesma e, segue atrás da pizzaria. Põe o som alto pra não escutar as lamúrias do filho, que agora quer pizza e que ela crie uma espécie de asa no carro (tipo os carros futuristas de filme de ficção) e chegue o mais rápido possível ao destino traçado mais uma vez por quem nela manda.

Um alívio a chegada. No pé de Galeno só as meias, mas isso era fichinha. Tem nadinha. Nos brinquedos só pode brincar mesmo é descalço.

Menino brincando. Valéria lendo o livro da vez. Mesa com coisas espalhadas....um boneco só pra variar.... Lá vem.....

- Quelo fazer cocô!!!

- Ô menino, não me mata, não!!!!

- Vai sair.....

Recolhe as coisas na mesa...bolsa, boneco, livro, celular.

- Tem que lavar, mamãe?

- Como Galeno?

- Só gosto quando lava!!!!!

- Pois, vai ser no papel mesmo! Chegar em casa te dou um banho.

- Um banho, não. Lava só o meu bumbum!!!

- Táááááááááááááááááá.......

Lá fora a pizza à mesa. A gula toma conta do menino. Valéria nem come, nem ler, nem se concentra em nada.....fica pensando no que irá dar tudo isso.... gosta de pensar que deveria ter férias para mães. Isso gera culpa!!!

- Vou para o pula pula!!!

- Vai, não!!! Vc acabou de comer. Fica só naqueles brinquedos ali (apontou). Vou ler um capítulo e você proveita para brincar um pouco!!!

- Mamãe, olha o Luís Vitor!!!!!

- Vai lá brincar com ele, vai!!!!

Um breve sossego e nada de leitura. Queria era ir pra casa mexer no facebook.

- Mãe, mãe, mãe....

- o quê??????????

- Vou vomitaaaaaaarrrrrrr!!!

Um eco ensurdecedor....uma praga...um azar...um feitiço....tudoooooooo!!!!

Quem adivinhou que o vômito foi em cima da mesa, merece um beijo!!! Galeno vomitou lá, bem em cima, dentro daquele negócio redondo de alumínio.....dentro da forma.....

Com certeza, se algum homem olhasse o seu olhar...se apaixonaria perdidamente por ela. Aquele olhar de cachorro querendo abrigo, piedoso por si próprio....uma lástima de desamparo!!!

Pedido a conta e claro, desculpas pelo estrago e catinga.....Mãe e filho saíram ao encontro do carro.

- Mãezinha, gosto mesmo é quando tu briga!!!Quando você fica assim eu sofro!!!

- Sofre Galeno? Por mim? Não precisa.....esssas coisas acontecem.

- Pois é mamãe, eu bem que disse pro Luís Vitor, que eu não podia pular....mas....posso te dizer uma coisa?

- Galeno, nada mais hoje abála-me!!!

- Que bom, mamãe, porque eu fiz cocô e vomitei....agora eu tô com fome e quelo um Mclanche Feliz!!!!

Valéria aumentou o som e foi pra casa.....ofereceu o que tinha para Galeno e disse:

Pode fazer o que quiser da casa, pegar lençois e arrastar no chão, pegar todos os brinquedos de uma vez, fazer o que quiser......mas pelo amor que você tem pelo seu pai (e é grande, viu, o amor!) deixe-me na minha.


3 comentários:

  1. Minha querida....deparei-me com esta beleza de escrita e não podia passar, sem deixar o meu comentário......Lindoooooo demaissssssss amei!!! Terno, carinhoso, mãezona, mulherzinha,mulher...e ...de tudo isto tanto...deveras hilariante!! Parabéns minha querida amiga! Beijãooooooo grande no <3

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    1. Muito obrigada, manu. Fico super feliz por vc ter gostado. Dá até uma motivação legal.Tenho muitos textos e tinha vergonha de postar. Sou muito crítica e não gosto dos meus escritos. Um beijo. <3

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  2. AMEIIIIIII.....É TUDO ISSO AIII MESMO !!!!!!!!!!!!

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