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domingo, 8 de abril de 2012

Ela já tinha maturidade sufuciente para entender o que se passava dentro dela. Não havia mais espaço em si para ser sufocado ou mesmo sugado. Estava disposta a não estar mais tão disponível aos que amava. Cada um que seguisse com sua história. O amor, claro, irá sempre manter a linha presa em cada um, ou melhor dizendo, o elástico.
Aquela tristeza de não saber o que a deixava naquela inércia, por anos a deixara feito planta ornamental. Mas era uma coisa meio inconsciente. Iam se passando os dias, os anos e lá sempre estava ela. Alicerçando, sendo a fortaleza de todos menos dela mesma. Não haviam agradecimentos. Quem haverá de agradecer a quem sempre está ali, pronta a dizer algo, a fazer algo pelo pedinte?
Mas ninguém acorda disposto a mudar da água para o vinho. Foram os acontecimentos ao seu redor que a despertou. Talvez alguns poucos anos. Não foram com os ganhos que despertar foi nascendo. Foram as perdas. Elas. E foram tantas e tantas, que enumerar seria a volta de esquecidos monstros que adormecem em algum lugar no tempo de seu viver.
Porém, foi a fatalidade que acordara num sábado que a fez desistir de ser grega e troiana. Ela passou a ser apenas troiana. Por quê? Por gostar da figura como Heitor é retratado. Homem lindo que amava a mulher, seu pai, seus irmãos e claro, era um príncipe que amava o seu reino. E era íntegro consigo mesmo, embora o amor pelos outros. Não fugiu de lutar quando Aquiles foi a seu encontro. Se despediu dos que amava, lutou(pois não fugiu do que lhe foi imposto pela vida) e morreu bravamente. Um guerreiro!Fez o que achava ser melhor, mesmo tendo a sua frente a morte à vista. A provável morte que nos assola a todos os instantes desde que nascemos.
O que ela agora, troiana, desejava era fazer o seu dia valer à pena. Achava-se até pouco tempo passiva ao soprar dos ventos. E isso a fazia rir, pois andou e nem sabe por onde.Não aproveitou a paisagem, por que não eram as suas. Apenas as moldurava. De forma bela, mas sem valor histórico.
Ela respirava aliviada de certa forma, embora o despreendimento fosse ainda parcial. Tudo gradativo, sabia ela. Não iria por os seus ao relento. Todos ganhariam. Iriam em conjunto aprender a pescar no mundão que o mar é.
E o modo como ela estava, agora, enxergando a si e aos outros, coincide com a chegada do amor. De um novo amor que surgiu inesperadamente. Pulou da melodia e se instalou no dia a dia. Arrombando a porta e escancarando que na vida há vários chamados, mas só escuta quem está surdo. De repente os sentidos não mais a atendiam. E o certo e o errado começaram a se digladiar na arena interior da paixão que estava sentindo. Cores e músicas foram se transformando em um só substantivo abstrato. E a falta do paladar e do tato a enlouqueciam.
E se o Tempo é um ladrão, o que seria para ela naquele momento? As falas estavam dinâmicas demais. O efêmero cutucando o inexorável. E ela ainda meio perdida em si, nele, nela..... em todos.
Ela se delicia com um gole de vinho e lança um olhar para o vazio, como se ali estivesse o seu socorro. Aquele que ela desejava a todo momento. Fechou os olhos por alguns minutos, apertou os lábios um no outro e suspirou aliviada por constatar que jamais estivera tão viva e tão bem consigo mesmo.

Um comentário:

  1. Amada parabéns seu blog está maravilhosoooooooooo !!! te love forevizzzzzzzzzz!!!

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