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segunda-feira, 4 de março de 2013

Mendigar um Sorriso

Estava pensando naquela parte da música de Zé Ramalho que diz assim: "como é triste a tristeza mendigando um sorriso". E me veio a questão: " quem conhece os caminhos do amor?" Este rege nossas vidas. É quem faz a gente rumar com vontade ou por obrigação. E fico matutando em minha cabeça essa impressão que o Tempo me traz. Essa coisa dele passar esperando. É meio sem nexo isso. Mas vejo sentido na espera do Tempo mesmo ele sendo dinâmico e carregar a vida com seus sentimentos e emoções nas costas. O que faz ele ser rápido ou lento.
Eu acredito que nossos espíritos estejam conectados de alguma forma. E como temos várias formas de amar as tantas pessoas que conhecemos, a proporção dessa conexão depende do grau de envolvimento que temos uns com os outros. Como se fôssemos um jogo de montar. A paisagem depende da perfeição dos encaixes. Nisso a natureza se faz até cruel. Sentir uma coisa que não vem de você e ficar ansioso e angustiado sem entender o que se passa na alma não é nada agradável. Isso dá umas oscilações no riso aberto. Mas a gente vai vivendo e tentando vencer nossas batalhas diárias, mesmo sentindo essas coisas estranhas que vem com o vento. Um determinado dia a gente entende o que foi aquela brisa que nos causou um arrepio inesperado. Isola três vezes, a gente diz!!
Como sou ligada nessa coisa de achar que somos todos habitantes de um local só e que estamos aqui para cumprir algo que nós mesmos combinamos sei lá onde e porquê, creio cada dia mais que se entendêssemos porque nascemos para morrer um dia, não haveríamos de viver essa vida que nos chega todos os dias. Isso vai me dando a nítida certeza de que partilhar o máximo possível com quem amamos é uma das mais importantes regras. É como se fosse um dos mandamentos. Digo no sentido da importância que este tem.
Eu penso demais. Isso não é bom. Chafurda a minha cabeça. Tenho umas feridas que não se enxerga. Aquelas que surgiram por gestos ou palavras. Ficam lá escondidas na gaveta que inventei na mente. Às vezes preciso dar uma olhada para ver o que acho de interessante nas coisas que não doem mais. Eu tenho a necessidade de estar com os meus ganhos, perdas e restos. Quase não tenho tempo para eles, mas fazem parte de minha história de vida. O bom de ver as coisas depois que elas perdem aquela imensa importância é que há várias versões de nós mesmos. É. Tem disso na vida. Eu já percebi. Somos outros antes , durante e depois dos acontecimentos. Se alguém nada muda, pode dizer-se um idiota. 
As mortes de pessoas próximas a mim me deixam cada vez mais mortal. Quanto mais novo o falecido, mas mortal vou me transformando. E mais desapegada às velhas questões eu vou ficando. Aquelas águas turvas com pedrinhas foscas, vão se transformando em águas de oceano verde com pedrinhas coloridas e brilhantes. E vou enxergando uma floresta povoadas de fadas, mas com plantas carnívoras também. Há o belo e o fantástico, mas há o lembrar do pó. Deste que se volta. Do regresso. Do lar misterioso que nos aguarda e do qual eu imagino os meus mortos. Isso me acalenta. É uma verdade. A minha!
Mendigar um sorriso é querer uma vírgula quando ainda não se consegue chegar ao ponto. Sei o que é  isso porque eu já convivi com amigas que se viram num puxar de tapetes que a vida lhes deu sem dó e nem pena. Perdas que trazem uma dolorosa saudade que vai aumentando conforme vai se tendo a certeza de que aquilo não vai passar enquanto de viver eterno se fará aquela ausência. Cada dia mendigando um sorriso.
Não há uma ordem na natureza. A idade não conduz os fatos, mas causa indignação. Saramago dizia que os filhos são emprestados. E como aceitar tal coisa? Na verdade tudo nos é emprestado. A gente não leva nada daqui da Terra. Voltamos só com o que carregamos na alma. E ninguém nem percebe pois a janela desta se faz fechada. 
Eu a esta hora sinto-me com essa coisa de que ficou algo sem dizer, mas carrego a mente sã em ter total consciência de que um sorriso a cada encontro fora trocado. Palavras engraçadas, conversas colocadas em dia e as tiradas da boemia. Vida louca vida, é isso que a natureza e sua falta de ordem é: LOUCA!
E assim a cada dia me acho mais nova. Quarenta e um anos é pouco para morrer e muito para viver? Tem gente que se acha velha com quarenta....pois então pensa na morte com essa idade!! Em teu velório irão dizer: oh tão nova....
Vamos viver sem levar em consideração o que nada acrescenta.É muito melhor espreitar um leve sorriso de canto de boca do que se maldizer da vida. Viver embora as tempestades é driblar a desordem de que vez por outra nos assombra. É triste ver os mais novos serem enterrados por seus pais.

Valéria Hidd









2 comentários:

  1. Minha querida, mais um dos seus brilhantes diálogos com vc mesma, que tanto nos fazem refletir....e tanto nos comovem pela autenticidade e veracidade das emoções, dos sentimentos em conflito. Estados de espírito, pensamentos, que certamente existirão em mtos de nós, e que vc, minha linda, por mérito próprio, sabe tão bem retirar das gavetas onde os acomodamos, tentando que não nos incomodem... .PARABÉNS, minha amiga....pela profundidade, pela beleza, pela ternura e pela delicadeza,como trata e mexe nas "coisas" da vida.!!...vivamos pois...tentando sempre ter "um leve sorriso no canto da boca"....apesar dos pesares, certamente que cumpriremos e aceitaremos com mais leveza....as tempestades que por vezes tanto nos abalam....mas também nos ajudam a compreender esta subtil frase; "Mendigar um sorriso é querer uma vírgula quando ainda não se consegue chegar ao ponto."!!! Um beijo eu seu lindo coração Valéria Hidd.....abração linda....PARABÉNS!!!!

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  2. Obrigada, Manu!! Vc é um amor de pessoa!!Bjuss

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