Tenho uma coisa do ser livre dentro de mim. Isso me atrapalha a viver, porque me causa ansiedade e angústia. Fico inquieta com horários marcados, muitas ligações atrás de mim e visitas a fazer, solicitações de filhos (que são três ) ao mesmo tempo, a combrança de minha mãe que - coitada sozinha e mãe de filha única - necessita de minha presença diária. Fora obrigações e deveres demais. Chantagem de amigas: você só liga pra fulana, você nunca mais apareceu, nem me ligou no meu niver, poxa, você voltou e nada de me avisar, fulano morreu e você nem deu as caras ( claro que eu não soube), Passa de carro aqui na porta e nem para um instante ( tem dia que eu queria ter 28hras). Acho viver muito difícil. Às vezes acho que nasci sem algumas ferramentas para aguentar essa pressão toda e por dia, se pudesse, nem da cama sairia.
Eu jamais faço uma pergunta indiscreta a alguém e sei que se eu não consigo tempo e espaço para agradar a todos que moram em meu coração, é claro, as pessoas também têm essas coisas mal resolvidas, ou será/ seria uma questão de prioridades? Não sei responder a essa pergunta, mas há pessoas mais fáceis de lidar e isso é uma questão importante a observar.
Hoje estou triste. Lógico que estou escrevendo esse texto com essa coisa melancólica que dezembro me dá. Escutando nothing else matter, a escolhida de hoje, porque eu só consigo escutar uma única música até dar fim nas palavras que encontro para finalizar meu raciocínio.
Se houvesse um médico que me explicasse esse vazio que há dentro de mim, pagaria o que fosse para sanar essa coisa ruim. Venderia o meu carro que considero o maior amigo, pois quando estou nele sozinha, sinto-me a pessoa mais livre do mundo guiando o meu caminho, retardando parar algumas vezes, pois a canção que amo ainda não acabou. Juro que ficaria sem meu amigão se caso em troca isso sumisse.
Sou muito bem resolvida e me dou bem com as consequências de minhas escolhas. Não falta nada. Claro que sou como a maioria das pessoas, busco sempre ter para viver, mas isso não me tira o sono e nem a paz. Está dando para viver. Talvez não seja uma coisa, talvez seja alguém. Mas isso também é meio improvável. Eu vivo entre tantos alguéns que amo e que sabem o que eu sinto, pois sou de demonstrar: beijo, abraço, brigo, xingo...essas coisas que o amor nos faz ser como somos.
Hoje tive um sonho muito ruim. Acordei quando estava amanhecendo. Nem tenho coragem de contar diretamente para ninguém aqui de casa. Acho que isso contribuiu para que eu esteja com a alma doída e cansada, por agora. Nessa coisa de momento que é a minha vida. Sou intensa. Alegrias e tristezas são vividas de forma igual. Ambas podem me fazer chorar e num passe de mágica sumirem e darem lugar a outras emoções. Assim sou, instável, como diz morcego!
Enfim, sonhei com minha tia Nadja dizendo para mim que meu ex-marido havia morrido. Como a pessoa sonha com duas pessoas sem que antes de dormir nem sequer lembrou delas?
Olha, vou dizer, lidar com perdas é terrível. A gente cresce ouvindo fulano morreu, beltrano sofreu um acidente...mas que coisa ruim traz a morte. Penso: um dia será eu. E quando e de quê? Aí saio logo desse pensamento, fujo...melhor pensar em contas à pagar do que na caveira andante, o puro osso, a coisa que carrega uma foice, o cara que guia o barco....na morte!
O sonho é um assunto que me impressiona. A gente dorme e assiste a filmes com pessoas que conhecemos e também com quem a gente nunca viu. Os lugares, os diálogos são tão reais!
E voltando ao meu sonho, estou há uns dezoito anos que não troco uma palavra com ele. Mas temos filhos em comum. Dois rapazes com feições misturadas de nós dois. Uma mistura que ficou bonita. Você pode dizer que estou sendo mãe nessa hora, mas são, sim, lindos. Filhos de pais bonitos. Não seja por isso o motivo deles serem lindos, porque já vi filhos de casais bonitos, embora isso, serem feios. Acredite, caso eu continue a colocar esses adjetivos, a mãezona aparecerá! É fato, como dizem os que não sabem comentar, no facebook!
Está vendo como falar do sonho ruim é difícil. Meto outras coisas pelo meio. O texto acaba saindo daquela ordem que nos ensinam nas aulas de redação: começo, meio e fim. É tão simples? É não! Justifiquei um dia para professora Sandra: "não é simples, coisa nenhuma, vá me desculpar. A redação é feita de caneta e lá no meio dela eu lembro de algo que é importante, mas que tinha que ser dito antes...e aí?? Eu vou criar a minha própria regra de escrever quando eu puder ser livre de colégio". A professora Sandra era linda e tinha um namorado fortão que ia buscá-la de moto e tinha tatuagem. Pense numa coisa que eu achava massa. Mal sabia eu que meu medo daquela coisa em que ficamos altamente expostos, traria um trauma para mim ao pegar carona com Júnior. Ele corria tanto e eu gritava tanto para que ele parasse que ali foi a primeira vez e a última que andei de moto. Gosto de me sentir mandando em mim e não impotente.
Conheci Ricardo, meu primeiro marido aos onze anos. Ele tinha quinze. Era meu vizinho. Muro em comum. Aos meus doze nos demos o nosso primeiro beijo. Namorávamos e terminávamos. Tivemos outras pessoas nos intervalos. O mais longo intervalo que tivemos nesses anos de namoro, foi de três meses, tempo esse que namorei com um primo dele. Mas chegou o dia em que começamos a namorar sério. Já estávamos mais maduros. Eu como sempre, precoce. E era louca, alucinada por ele. Tempo bom aquele. Ele inteligente e estudioso. Super responsável. Eu , nem tanto. Achava que minha inteligência já seria o bastante. Ele bonito e beijava bem. Éramos um grude. Quando fizemos um ano de namoro transamos. Eu com quinze e ele com dezenove anos. E não foi bom, como acredito que quase toda primeira vez. Estava sem jeito, nervosa. Ia perder algo meu...Depois a gente aprende a se soltar e é só alegria. Virou rotina. Sem camisinha, sem anticoncepcional. E como são somos estéres, fomos pais bem cedo. Aos dezesseis anos eu me tornei mãe. E tivemos nossos momentos. Foi bom. Nos divertimos muito. Mas somos diferentes e essas coisas, vão atrapalhando. Ele gosta de sítios e eu da cidade. Por aí vai....Hoje ele tem a sua família e eu a minha e temos nossos dois filhos em comum. Os pais dele, durante o tempo em que fomos casados foram meus pais também. Principalmente a mãe dele. A quem jamais perdi o contato.
Não irei contar o meu sonho/pesadelo. Do meu jeito e por termos nossos filhos eu o amo. Amor fraternal, embora ache que não seja recíproco. Mas amor é assim mesmo: a gente emana sem esperar nada em troca.
Valéria Hidd
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