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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ela por Ela

E naquele dia chuvoso com ar melancólico, ela sentou-se a beira do banco de madeira e ficou observando o tempo ao seu redor. A natureza parecia gritar de felicidade diante de tão sonhada terra molhada.
Resolveu mudar os planos de ir resolver umas coisas e ficou ali por mais de uma hora com uma caneca de chá que parecia nunca acabar.
Mais um ano à beira do fim. Aquela angústia que a aproximidade com o Natal traz a alma dela. E veio a sua mente uma constatação que já vinha querendo pular de seu subconsciente há tempos, mas que ela sabiamente fazia de conta que não percebia.
Para ela essa coisas de a pessoa ser fruto do meio tinha lá sua razão de ser. Mas após deixar-se entender o por que de suas desavensas com sua mãe, notou que tem enraizado em sua personalidade mais do que supunha desta e daquele, que mesmo não mantendo por ele, lá esses sentimentos, era o seu pai.
Ser fruto de um amor sem final feliz. Onde nada se sabe do começo e meio, fez com que ela, já adulta, percebesse que durante toda a sua caminhada até aquele dia nublado e chuvoso, eles sempre estiveram presentes em cada escolha que fizera. Aquela vida mal resolvida dos dois, dos seus genitores, era fator da impulsividade. Do agir sem pensar. Do medo de perder sem ter. E de ser aquela imagem eterna do que não deu certo. Do que mal começou. Do que fez uma simples frase, reger a vida de todos de forma inesperada e de certa forma, injusta.
Pequenos fatos, a determinaram. A condicionaram e trouxeram a sua mais ameaçadora e de difícil entendimento aos que se relacionam com ela, a liberdade que nela reside, com asas brancas e invisíveis. Não é aquela liberdade a que todos entendem como se denegrisse a pessoa. Mas aquela que deveria ser respeitada por querer dizer que há pessoas que enxergam a vida de forma mais simples, sem tanta pressão e satisfação. Mas sempre com respeito e consideração ao que se entende que merece tê-los.
No final da vida de todos, segundo ela, é sempre certo. É sempre o que deveria ser. Pra ela, as pessoas não deveriam se arrepender por algum passo que deram pra traz. Recuar é sempre sábio. Ou que avançou. Isso quem determina é o momento. A vida é o próprio momento. Dia após dia num eterno acordar e dormir, até que um dia se morre. Assim é com todo mundo. Ninguém há de fugir. Então pra que ter expectativa com coisas que nem se sabe se vêm mesmo!! Assim, ela vai levando seus dias. Quem se preocupa demais com resultados, ao invés de ir nadando conforme as ondas, acaba por viver com culpa e medo.
Ela sabe que o Tempo aquieta tudo. Isso não quer dizer que mata o que não quer morrer, mas que abranda, isso é certo e justo! Veio a sua mente um pequeno texto e como de costume sai correndo atrás de caneta e papel.
Escreveu:
 " Vago de vez enquando com aquela presença escassa que ausência dele causa. E será isso quase sempre?
Então os sentimentos deixam de se entender e sopram ao coração que se fecha enquanto não a entendimento. Enquanto a razão saiu pra sonhar longe. Lá perto do mar. Mesmo assim, nada vazio. Um estopim, sem o calor que transpira o urgente, porque ela tem certeza de que ele sente tal coisa também."
Ela olha e olha aquelas palavras escritas e pensa: será que o escritor tem alguma conexão com outro mundo? Por que aparecem de repente esses textos e se na mesma hora não for colocado no papel, aquilo foge? Sabe lá o que é ter esses espasmos!!
Talvez haja ações que só os sentimentos, ou o próprio amor, para justificar! Ela leu isso num livro que falava sobre Deus.
A chuva finda, o chá fica frio, a vida permanece ao canto alegre dos passarinhos.
Ela dá um sorriso, inspira e expira aquele cheirinho de terra molhada e sai confiante de que naquele momento tudo conspirava para mais um belo dia de vida!


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